ATA DA VIGÉSIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 17-9-2002.

 


Aos dezessete dias do mês de setembro do ano dois mil e dois, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e sete minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear a Semana Farroupilha e à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Desembargador Eliseu Gomes Torres, nos termos, respectivamente, do Requerimento nº 137/02 (Processo nº 2704/02), de autoria da Mesa Diretora, e do Projeto de Lei do Legislativo nº 005/02 (Processo nº 0065/02), de autoria do Vereador Haroldo de Souza. Compuseram a MESA: o Vereador João Carlos Nedel, 1º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; os Desembargadores Carlos Alberto Benck e Francisco José Moesch, representantes, respectivamente, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul - AJURIS; o Senhor Rinez Trindade, Diretor do Foro Central de Porto Alegre; o Senhor João Batista Arruda Giordano, representante do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul; o Senhor Vilson Martins, representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Telmo Kruse, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; o Senhor Manoelito Carlos Savaris, Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho; o Desembargador Eliseu Gomes Torres, Homenageado; o Vereador Haroldo de Souza, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Haroldo de Souza, em nome da Bancada do PHS, destacou sua admiração pelo povo gaúcho e teceu considerações sobre a importância das comemorações relativas à Semana Farroupilha. Ainda, discorreu sobre a biografia do Desembargador Eliseu Gomes Torres, ressaltando o brilhantismo profissional, o amor ao próximo e a retidão de caráter de Sua Senhoria. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, analisou aspectos históricos da formação do Rio Grande do Sul, enfocando a relevância das homenagens à Semana Farroupilha como parte das tradições do Estado. Também, elogiou o trabalho desenvolvido pelo Desembargador Eliseu Gomes Torres, mencionando o Homenageado como exemplo de honestidade e dignidade. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou as presenças dos Procuradores de Justiça Antonio Carlos de Avelar Bastos e Roberto Bandeira Pereira e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Elói Guimarães, em nome da Bancada do PTB, saudou o Desembargador Eliseu Gomes Torres pela sua dedicação em prol da cidadania e da justiça, reiterando o merecimento do Título outorgado a Sua Senhoria. Também, exaltou a Semana Farroupilha, historiando fatos atinentes a esse movimento revolucionário e declamando o poema “O Chimarrão”, de Glaucus Saraiva. Na oportunidade, o Senhor Presidente registrou a presença de Iasmin, 1ª Prenda Mirim do Estado do Rio Grande do Sul. A seguir, o Vereador João Carlos Nedel solicitou ao Vereador Adeli Sell que assumisse a direção dos trabalhos e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, congratulou o Desembargador Eliseu Gomes Torres pela homenagem hoje recebida, lembrando a unanimidade da Casa na aprovação do Projeto de Lei que concedeu o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre a Sua Senhoria. Ainda, reportou-se às comemorações da Semana Farroupilha, enaltecendo a figura de Giuseppe Garibaldi como um dos mais importantes personagens da História gaúcha. Em continuidade, o Vereador João Carlos Nedel, na presidência dos trabalhos, convidou o Vereador Haroldo de Souza para proceder à entrega da Medalha e do Diploma referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Desembargador Eliseu Gomes, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. Ainda, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Manoelito Carlos Savaris, que destacou a importância da homenagem hoje prestada por este Legislativo à Semana Farroupilha. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e trinta e seis minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores João Carlos Nedel e Adeli Sell, este nos termos do artigo 27, parágrafo único, do Regimento, e secretariados pelo Vereador Haroldo de Souza, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Haroldo de Souza, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear a Semana Farroupilha, proposta pela Mesa Diretora, e a outorgar o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Desembargador Eliseu Gomes Torres, proposto pelo Ver. Haroldo de Souza.

Compõem a Mesa o Sr. Desembargador Eliseu Gomes Torres, homenageado desta Sessão; o Sr. Manoelito Carlos Savaris, Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho; o Ex.mo Sr. Desembargador Carlos Alberto Benck, representante do Tribunal de Justiça do Estado; o Sr. Francisco José Moesch, representante da AJURIS; o Sr. Vilson Martins, representante da Prefeitura Municipal de Porto Alegre; o Dr. Rinez Trindade, Diretor do Foro Central de Porto Alegre; o Sr. João Batista Arruda Giordano, representante do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul; o Sr. Telmo Kruse, Presidente do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

Esta Casa sente-se honrada com a presença de todos numa Sessão Solene que pretende homenagear as mais elevadas tradições do nosso Estado, da vida do nosso Estado, e também homenagear um homem que muito contribuiu para a grandeza deste Estado e do nosso País.

O Ver. Haroldo de Souza, proponente desta homenagem, está com a palavra.

 

O SR. HAROLDO DE SOUZA: Sr. Presidente, Sr.as Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Desde que aqui cheguei, há vinte e oito anos, aprendi a conviver com os hábitos gaúchos, fui assimilando esses costumes no meu dia-a-dia e fui ficando por aqui. Hoje, sinto-me um gaúcho, sim. Depois de um certo tempo aqui vivendo, entendi por que o sentimento do gaúcho é tão forte quando se trata de falar em Semana Farroupilha. Entendi por que ninguém consegue ficar indiferente à música, à poesia, à história deste povo, que, com sua tradição de luta, tem-se destacado, ao longo do tempo, como autêntico brasileiro capaz de levantar-se contra a opressão e a injustiça. A Guerra dos Farrapos, que durou dez anos, é uma mostra real do que é capaz um povo que luta por seus ideais. Não fosse ela desenrolada aqui no Rio Grande, teria durado tanto tempo? Essa guerra que reverenciamos todos os anos, mantendo acesa a chama da valentia e dos valores que se forjaram daquele tempo, a cada ano que passa, ao invés de cair no esquecimento, como seria natural, pois trata-se de uma guerra, ao contrário, mais e mais se vivencia, demonstrando que, mesmo nos horrores de uma guerra, um povo se destaca na busca de seus ideais, transformando, por incrível que pareça, a guerra em um símbolo de paz.

A Semana Farroupilha é a essência da alma de um povo que nasceu para ser grande, que não foge à luta, que, quando acredita, sabe pelejar como ninguém na busca da igualdade, da fraternidade e da lealdade entre os povos.

E o homem a quem homenageamos hoje não poderia receber o Título que lhe é concedido em ocasião melhor do que esta em que se comemora a data máxima dos gaúchos. Afinal, ele é um dos que compõem a galeria dos ilustres filhos desta terra, que, tendo nascido no interior, adotou como sua a Capital do Rio Grande.

Corria o ano de 1934, e, na cidade de Cachoeira do Sul, nascia Eliseu Gomes Torres, filho de Jonathas Pereira Torres e de Helena Gomes Torres, ambos falecidos. Tem sete filhos, oito netos e um bisneto. Fez o curso primário no Colégio Salesiano San Rafael, em Curuzu Cuatiá, Província de Corrientes, Argentina. No curso ginasial, freqüentou o colégio São Roque, os Irmãos Maristas, em Cachoeira do Sul, e o curso Clássico no Colégio Rosário, em nossa Capital. É graduado em Ciências Jurídicas e Sociais na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul de Porto Alegre, tendo alcançado o bacharelado em dezembro de 1959.

Inscrito no quadro de advogados, em caráter definitivo, sob o número 2.576, a inscrição foi cancelada por ter assumido o cargo na Magistratura, sendo reinscrito em março de 1999, ao aposentar-se, agora sob o número 47.100. Exerceu a advocacia, primeiro como solicitador, desde 1958; depois, como advogado, ao longo de 35 anos, tanto na área cível quanto na criminal. Em 1993, foi nomeado Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado pelo quinto constitucional, exercendo a Magistratura até a aposentadoria. No Tribunal de Justiça, integrou, desde o início, o Órgão Especial, classificando-se na 8.ª Câmara Cível. Atuou em Câmaras de Férias Criminal, e após pediu remoção para a 7.ª Câmara Cível, que presidiu até a jubilação.

Foi membro efetivo da Comissão de Concursos do TJRGS. Foi Vereador em Cachoeira do Sul, elegendo-se Presidente da Câmara Municipal quando tinha 26 anos de idade. Foi diretor da Superintendência da Política Agrária no Estado do Rio Grande do Sul no período de 1962 a 1.º de abril de 1964. Foi Presidente da Subseção de Cachoeira do Sul da OAB por três períodos consecutivos. Conselheiro da OAB/Rio Grande do Sul em cinco períodos consecutivos; Vice-Presidente da Seccional Gaúcha da OAB; Diretor de Comunicação Social da AJURIS, no período 1996/1997 e membro efetivo do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul.

Exerceu o magistério, em caráter eventual, na Escola Superior da Magistratura e na Escola Superior de Advocacia. Atualmente, profere palestras e ministra cursos na área civil, tendo artigos de doutrina publicados.

Desde 1988, reside, em caráter permanente, nesta Capital, inicialmente na Rua Anita Garibaldi n.º 2120, e, a partir de 1995, em seu atual domicílio na Rua Coronel Lucas de Oliveira nº 1621. Antes disso, residiu nesta Capital em três oportunidades: de 1951 até 1959, ao graduar-se; de 1962 até 1964, quando exerceu cargo de chefia federal, e, após, de 1988 até a presente data, em caráter definitivo.

Sua primeira filha e seu filho mais moço nasceram em Porto Alegre. Aqui formou e tem largo círculo de amizades e vinculações de caráter parental, profissional e político. O exercício de cargo de chefia na área da reforma agrária valeu ao epigrafado o exílio por ocasião do Golpe Militar de 1964. Pediu asilo político no Uruguai, onde alinhou-se ao lado dos que pretendiam derrubar o regime militar. Com a consolidação do novo governo e ante a impossibilidade de ganhar o seu sustento como asilado, retornou ao Brasil em maio de 1965. Inicialmente foi preso, incomunicável, durante 54 dias. Libertado, voltou a ser preso em outubro de 1965, removido para Foz do Iguaçu, depois para Curitiba - no meu Paraná -, onde foi mantido preso durante sete meses. Foi acusado de haver participado da Guerrilha de Três Passos, respondendo ao mesmo processo contra o Cel. Jefferson Cardim de Alencar Osório. Ao final, foi absolvido, tendo respondido também a processos na área gaúcha, com absolvição em todos eles por todos.

Por tantos serviços prestados a nossa comunidade pedi o presente Projeto de Lei que, submetido à apreciação dos nobres Pares desta Casa, a concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao advogado Eliseu Gomes Torres, nos termos do estabelecido nas Leis n.º 1534, de 22-12-55, e n.º 1969, de 23-07-59, foi aprovado por unanimidade nesta Casa.

O homem Eliseu Gomes Torres escreveu a sua história de vida por intermédio de uma conduta de linha reta pautada pela amizade e pela transparência. O Dr. Eliseu Gomes Torres é, acima de tudo, uma pessoa que, ao se apresentar aos nossos olhos pela primeira vez, demonstra uma profundidade de caráter e uma luz de bondade e carinho para quem o procura.

Conheci o homenageado, o novo Cidadão de Porto Alegre, por intermédio do ex-Governador, meu amigo particular, Antônio Britto. Foi num momento de desespero, de entrave judicial que balançava o equilíbrio emocional e existencial da minha família. O Dr. Eliseu não foi apenas um advogado no exercício da sua profissão, que ele faz com maestria e categoria: foi, antes de mais nada, um amigo, um conselheiro, orientador direto ao problema, o que fez com que eu, um tanto contrariado por ações na Justiça, voltasse a acreditar na Justiça.

O Dr. Eliseu trata a todos com a mesma igualdade. Os homens não são destacados neste plano de vida pelo que eles têm, mas pelo que eles fazem, e o Doutor, o novo Cidadão de nossa Capital, Eliseu Gomes Torres, mantém na sua conduta de vida a transparência nos seus atos, a solidariedade com todos que o procuram e o amor escancarado ao próximo, sendo também um profundo conhecedor dos problemas do nosso Estado e do nosso País. Conhecedor e peleador para a solução dos problemas.

Ao receber esta homenagem, Dr. Eliseu, saiba do orgulho que provocas nas seguintes pessoas: Luciana, Daniela, Patrícia, Jonathas, Vânia e Lia Marta, e, num plano superior, onde nos encontraremos todos um dia, está o garotão Eliseu Júnior, orgulhoso do pai, alegre pela homenagem e um soldado permanente a proteger todos os seus neste plano em que o senhor se encontra neste momento.

Todos os que já receberam este Título, nesta Casa, fizeram por merecê-lo, e o senhor é o mais novo, é o caçula do time dos cidadãos porto-alegrenses para orgulho de todos nós que fazemos esta homenagem, no momento, na nossa querida Câmara Municipal da cidade de Porto Alegre. Parabéns, Dr. Eliseu Gomes Torres, novo Cidadão da Capital do Rio Grande do Sul. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): O Ver. Adeli Sell está com a palavra e falará em nome do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente, Sr.as Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Coube a mim, em nome de minha Bancada, o Partido dos Trabalhadores, prestar esta dupla homenagem nesta tarde: à lembrança dos Farrapos, da Revolução Farroupilha e ao Dr. Eliseu Gomes Torres. E esta feliz coincidência mostra um pouco do que é a nossa tradição. A boa tradição desse solo generoso, que fez com que aqui, num primeiro momento, casais portugueses chegassem e fossem abençoados pela Capital, abraçados pelo lago Guaíba. Logo depois, vieram outros tantos: os alemães, os italianos e todas e tantas etnias que hoje formam esse majestoso caldeirão cultural, que é o solo gaúcho.

Neste Estado houve muitas desavenças, inclusive para marcar as suas fronteiras, momentos em que vivemos esse frágil equilíbrio da civilização e da barbárie, inclusive com atos que, sem dúvida nenhuma, não nos fazem aqueles momentos de maior satisfação, porque as intrigas, as peleias, as revoluções não são bons momentos, mas, às vezes se tornam necessárias para marcar o futuro. E é por isso que nesta semana da Revolução Farroupilha, quando nos aproximamos do dia 20 de setembro, meu caro Manoelito Carlos Savaris, nós precisamos lembrar da tradição, porque com a construção da tradição, da lembrança, da história de homens retos, mulheres generosas, este Estado construiu, a partir de suas idéias, dos seus movimentos, a sua independência, a sua grandeza, a sua riqueza e as compartilham hoje com quase dez milhões de habitantes.

O Dr. Eliseu Gomes Torres e tantos outros Cidadãos Honorários de Porto Alegre são um orgulho para todos nós, e nós precisamos mais do que nunca lembrar aqui que precisamos de exemplos, exemplos de retidão, de honestidade, de trabalho e de dignidade que não se dobram diante das injustiças, que lutam mesmo nas adversidades para que tenhamos um Estado livre, um Estado que seja orgulho dos nossos filhos e netos.

No futuro, quando se falar de uma era da pós-modernidade ou de outro nome que se queira dar, espero que possamos lembrar que, no mundo moderno de hoje, nós estamos rendendo as nossas homenagens à tradição e, sempre nesse frágil equilíbrio entre a barbárie e a modernidade, aqueles ditames da Revolução Francesa, que é a nossa civilização, tivemos o orgulho de estar do lado, sem dúvida, dessa majestosa idéia generosa que é a civilização. O senhor é um dos construtores dessa idéia, desse movimento e da nossa civilização. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Registramos a presença dos Procuradores da Justiça Dr. Antonio Carlos de Avelar Bastos e Dr. Roberto Bandeira Pereira.

O Sr. Elói Guimarães está com a palavra e falará em nome do Partido Trabalhista Brasileiro.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Dr. Eliseu Gomes Torres, este é um momento muito importante para a Casa, e o é para V. Ex.ª, indiscutivelmente, mas diria, também, muito importante para a cidade de Porto Alegre, que tem a oportunidade de agradecer, prestar, Ver. Haroldo de Souza, autor da iniciativa, a gratidão da Cidade àqueles que por ela, pelo Estado, pela sociedade realizam nos seus mais diferentes ofícios a sua contribuição.

Então, é um momento altamente importante. Também, hoje, aqui, dizia ao homenageado que fico devendo a bombacha, porque historicamente, na Casa, Savaris, neste dia, quando se homenageia a Saga Farroupilha, venho pilchado, e até muitas vezes declamo.

Nós temos o nosso poeta Glaucus Saraiva, que fez, Ver. Haroldo de Souza, uma poesia magnífica que nós temos do chimarrão; então, vou declamar o “Chimarrão”, que diz mais ou menos assim, Eliseu, tu que és um homem da Campanha:

“Amargo doce que eu sorvo num beijo em lábios de prata/ Tens o perfume da mata molhado pelo sereno/ E a cuia, seio moreno que passa de mão em mão/ traduz o meu chimarrão em sua simplicidade/ a velha hospitalidade da gente do meu rincão/ Trazes à minha lembrança neste teu sabor selvagem/ a mística beberagem do feitiço charrua/ E o perfil da lança nua encravada na coxilha/ apontando firme a trilha por onde rolou história empoeirada de glória da tradição farroupilha/ Em teus últimos arrancos/ no ronco do teu findar/ ouço potros corcovear na imensidade do pampa/ E em minha mente se estampa/ reboando nos confins/ o som de muitos clarins repenicando avançar/ E então me fico a pensar que o amargo que está no fim/ que a seiva forte que eu sinto/
é o sangue de 35 que volta verde para mim.”

É exatamente o sangue de 35 que, hoje, aqui, também, ao lado desta homenagem ao Dr. Eliseu, nós estamos homenageando - a Revolução Farroupilha, de 35 a 45. Na minha opinião, ali se formou o psicológico, a psique, a alma, a bravura do homem que habita essa estremadura da Pátria que chamamos de “o verdadeiro garrão do Brasil”, que é o Rio Grande do Sul.

Temos reiteradamente afirmado que a Revolução Farroupilha, que muitas vezes se acusava de divisionista, foi, pelo contrário, um movimento para dentro, para o País, para a Província e para a Pátria.

Ver. Haroldo de Souza, quando da passagem de David Canabarro, quando a cavalaria farroupilha já estava dizimada, Rosas – o ditador – oferecia armas aos gaúchos para a resistência contra os imperiais. David Canabarro declarou que, com o sangue do primeiro castelhano que cruzasse a fronteira nós assinaríamos a paz com os imperiais. Isso mostra a grandeza do movimento que foi a Revolução Farroupilha.

Nós, tradicionalistas, celebramos, com toda a nossa alma, com todo o nosso pendor, esta Semana, este 20 de Setembro, oportunidade em que se realizam, no Estado, grandes festas, grandes acontecimentos, no sentido de chamarmos a atenção para a têmpera do homem do Rio Grande do Sul, do gaúcho, têmpera, Ver. Haroldo, que tem o nosso homenageado, um farroupilha, de Cachoeira do Sul, de uma cidade que teve um papel histórico no Movimento Farroupilha.

Mas, então, prezado homenageado, receba esta homenagem em nome da Cidade, porque, quando fala o Vereador - e aqui nós somos uma espécie de mosaico ideológico, aqui está a pluralidade da representação de Porto Alegre -, quem está falando é a cidade de Porto Alegre; quando o Vereador agradece, quem está agradecendo é a cidade de Porto Alegre. E é exatamente a Cidade de Porto Alegre que quer agradecer a essa figura magnífica do brilhante causídico, ex-Presidente da SUPRA, Superintendência da Reforma Agrária.

Num dos momentos mais dramáticos, Ver. Pedro Américo Leal, por que passou este País, lá nos idos de 64, o Dr. Eliseu, à frente da SUPRA, conduziu aquele importante órgão, quando se faziam coisas sérias - e é bom que se diga -, quando se tratava a reforma agrária com muita seriedade. Lá na frente da Superintendência da Reforma Agrária estava essa notável figura do advogado, do ex-Vereador, do jurista e do magistrado, o Desembargador Eliseu Gomes Torres.

É um momento importante para a Câmara quando ela, em nome da Cidade, tem a oportunidade de decantar os predicamentos da figura notável que hoje aqui estamos homenageando: o Dr. Eliseu Gomes Torres. Então, V. Ex.ª está recebendo a homenagem, e tenho dito aqui que o Título de Cidadão de Porto Alegre é como uma sentença declaratória, Srs. Desembargadores, apenas declara, porque aquele que a recebe cumpriu, através da sua história, da sua vida, das suas lutas, do seu trabalho, da sua dedicação para com a sociedade, para com sua cidade ou seu Estado, os compromissos da cidadania, do civismo, da ação em busca da qualidade de vida das pessoas, na busca da justiça, do desenvolvimento, e por aí vai.

Então, a Casa assiste hoje ao memorável ato homenageando a Semana Farroupilha, homenageando a cepa gaúcha, os nossos antepassados, que, no lombo dos seus “pingos”, à pata de cavalo, e à espada, demarcaram as fronteiras do nosso País.

É bom que se repita sempre: somos brasileiros por opção, fizemos uma opção de luta para sermos brasileiros. Somos brasileiros por opção. Não recebemos o Brasil nas manhas da chancelaria ou da diplomacia, e nenhum decreto nos incluiu neste imenso continente que se chama Brasil. Foram os nossos antepassados, os nossos gaúchos, tropeiros e militares que demarcaram a luta, e assim se constituiu essa grandeza brasileira, que é o nosso País e este Estado magnífico, que é o Estado do Rio Grande do Sul.

Portanto, prezado Desembargador, Jurista, Advogado Eliseu Gomes Torres, receba a nossa homenagem, a nossa saudação. V. Ex.ª é um homem jovem e, agora, passa a integrar o Conselho de Cidadãos de Porto Alegre, presidido pelo Dr. Telmo Kruse, grande figura da Medicina do nosso Estado, que, outro dia, lançou o livro - e li o livro do Dr. Telmo - Filho do Alfaiate. Integra-se o Dr. Eliseu a esse Conselho de Cidadãos, que é o Conselho mais importante que temos na cidade de Porto Alegre. Dr. Eliseu Torres passa a ser o novo pupilo, o novo integrante desse Conselho, que colabora, com os seus mecanismos, no assessoramento, no aconselhamento da Câmara Municipal de Porto Alegre.

Portanto, queremos, mais uma vez, reiterar a nossa saudação. Dr. Eliseu Torres. Que Deus acompanhe o senhor e a sua família, e que o senhor continue sendo o que sempre foi: um homem denodado, um homem de bem, um homem que orgulha a nossa gente, a gente gaúcha. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Registramos com muita alegria a presença de Iasmin, a 1.ª Prenda Mirim do Estado do Rio Grande do Sul. (Palmas.)

Com muita honra passo a presidência dos trabalhos ao Ver. Adeli Sell.

 

O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra. Fala em nome do PPB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Homenageamos, hoje, a Semana Farroupilha. E, nessa homenagem, incluímos o próprio Estado gaúcho e todos aqueles que, personagens de sua história, foram também autores de algumas das mais belas páginas da história da luta pela liberdade em todo o Brasil.

Indicado para falar em nome da Bancada do Partido Progressista Brasileiro, que tenho a honra de integrar, juntamente com os dignos Vereadores João Antonio Dib, Pedro Américo Leal e Beto Moesch, entendi que poderia fazê-lo, com candência e vigor, simplesmente reproduzindo as palavras de alguém que participou pessoal e diretamente, da Epopéia Farroupilha.

Refiro-me a Garibaldi, o herói de dois mundos, que, anos após sua partida do Brasil, escreveu uma carta a Domingos José de Almeida, da qual extraí o trecho que passarei a ler:

“Quando eu penso no Rio Grande, quando lembro das minhas primeiras campanhas entre vossos valorosos cidadãos e os sublimes exemplos de amor pátrio e abnegação que deles recebi, eu fico verdadeiramente comovido.

E esse passado da minha vida se imprime em minha memória como alguma cousa de sobrenatural, de mágico, de verdadeiramente romântico.

Eu vi corpos de tropas mais numerosos, vi batalhas mais disputadas, mas nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes que os da bela Cavalaria Rio-Grandense, em cujas filas principiei a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das Nações.

Quantas vezes tenho tentado patentear ao mundo os feitos assombrosos que vi realizar por essa viril destemida gente, que sustentou por mais de nove anos contra um poderoso império a mais encarniçada e gloriosa luta.

Repassando pela memória as vicissitudes de minha vida entre vós, em seis anos de ativíssima guerra e da prática constante de ações magnânimas, como em delírio, brado:

Onde estão esses belicosos filhos do continente, tão majestosamente terríveis nos combates! Onde estão Bento Gonçalves, Neto, Canabarro, Teixeira e tantos outros valorosos que não lembro! Oh! Quantas vezes tenho desejado nestes campos italianos um só esquadrão dos vossos centauros avezados a carregar uma massa de infantaria com o mesmo desembaraço como se fosse uma ponta de gado.”

Senhoras e senhores, ilustre Dr. Eliseu Gomes Torres, a quem hoje esta Casa outorga o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, por indicação do prezado colega e amigo, Ver. Haroldo de Souza, esse Título chega a V.S.ª talvez no mais feliz e oportuno dos momentos.

A luta pela liberdade política foi vencida, acredito que para sempre.

Entretanto, há uma liberdade que periclita e para cuja defesa precisamos continuar permanentemente alertas, que é a liberdade das consciências, especialmente neste período em que as ideologias e os sistemas sociais têm sido postos, por partidos políticos e por governos, acima das pessoas e de sua dignidade.

Integrar o seleto grupo de pessoas que integram o corpo de Cidadãos Honorários de Porto Alegre, ao mesmo tempo que um destaque e uma honraria, é também a assunção de um compromisso de zelo e guarda dos valores maiores de nossa sociedade, entre os quais a liberdade de consciência está em primeiro plano.

Receba os nossos cumprimentos pelo Título que agora recebe e os nossos votos de que, ao orgulho de ser cachoeirense e gaúcho, o senhor possa acrescentar o de ser também Cidadão Honorário de Porto Alegre. Parabéns. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Passo a presidência dos trabalhos novamente ao Ver. João Carlos Nedel nesta Sessão Solene que, na Semana Farroupilha, homenageia a Revolução Farroupilha, com a entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Desembargador Eliseu Gomes Torres, proposto pelo nobre Ver. Haroldo de Souza.

 

(O Ver. João Carlos Nedel assume a presidência dos trabalhos.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Este é um momento solene. Convidamos o Ver. Haroldo de Souza, juntamente com o Desembargador Carlos Alberto Benck, para efetuarem a entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Desembargador Eliseu Gomes Torres.

 

(Procede-se à entrega do Título.) (Palmas.)

 

O Desembargador Dr. Eliseu Gomes Torres está com a palavra.

 

O SR. ELISEU GOMES TORRES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, devo proclamar, antes de tudo, que é uma imensa honra para mim, fazer uso da tribuna desta Câmara de Vereadores, tribuna que é a própria voz do povo de Porto Alegre.

(Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Durante dias, desde que foi programada esta solenidade, hesitei sobre o que dizer. Aos que argumentavam com a aparente fluência quando se trata das lides judiciárias a que estou afeito, ponderava que não há fluência quando o que está em jogo é a própria voz do coração. Assim, quem deixa soltar a sua voz, neste final de tarde, não é senão alguém que sempre colocou em tudo o que fez um pedaço do seu próprio ser.

E para que a emoção não perturbe meu pequeno discurso, começo pelo fim, ou seja, pelos agradecimentos. O primeiro alvo deles é V. Ex.ª, Sr. Presidente, que preside com segurança esta Sessão e que me prestou uma homenagem que eu acolho com a maior gratidão. Devo a V. Ex.ª mais do que a honra que me foi deferida, como também a inclusão dela dentre os festejos da Semana Farroupilha. Esse agradecimento é extensivo a todos os Srs. Vereadores com assento nesta Casa e que se expressaram por suas briosas Lideranças, Casa que é a verdadeira caixa de ressonância das aspirações da cidadania desta leal e valerosa Porto Alegre.

Permitam agora que eu faça especial referência ao meu querido amigo Ver. Haroldo de Souza, que tomou a iniciativa de propor a outorga do galardão que acabei de receber. Do distante continente asiático, onde cobria a Copa do Mundo, o festejado locutor da Rádio Guaíba não esqueceu do amigo e distinguiu-me com referência que muito me tocou. Suas palavras, há pouco pronunciadas, tocantes e emotivas, no que traduzem elogios a minha pessoa, são fruto de sua estima por mim e trazem a carga de suspeição da amizade. Ainda assim, elas me confortam, reanimam e estimulam.

Agradeço também aos Vereadores Adeli Sell e Elói Guimarães, que, por suas Bancadas, expressaram o carinho que têm por aquele que está recebendo tão grande homenagem no dia de hoje.

Se me permite, Sr. Presidente, a minha gratidão volta-se aos colegas, amigos e parentes que, em sua generosidade, não se furtaram a comparecer, alguns com sacrifício, e vir trazer-me o abraço e a solidariedade. Permitam especial referência ao Dr. Sérgio Couto, editor da COAD e autor da famosa obra sobre a Nova Realidade do Direito de Família e colunista jurídico da AMAERG, e que veio do Rio de Janeiro para trazer-me o seu abraço e o calor da sua amizade.

Também não posso esquecer de mencionar o Eno Becker, meu companheiro de lutas e de exílio, que veio da distante Camboriú; o Nei Remedi de Souza, que saiu do seu leito de enfermo, e outros tantos que talvez eu possa olvidar, neste momento.

Quero referir também o Renato Figueira, que veio da distante São Gabriel; o Dr. Décio Laorg e sua esposa, advogada, a Dr.ª Maria Cristina Laorg, os quais vieram da longínqua Bagé. Desculpem se eu esquecer tantos outros que aqui estão e que eu não poderia nominar pessoalmente, sob pena de passar toda a tarde o fazendo.

Também não posso deixar de referir as minhas irmãs Maria e Lígia, aqui presentes; os meus cunhados, sempre amigos, sempre presentes em todas as situações. E culmino o registro que estou fazendo com os meus filhos: Vânia e Daniela, as quais vieram de Cachoeira do Sul, e Luciana, Patrícia e Jonathas, que convivem comigo na Cidade que ora me acolhe como seu Cidadão Honorário. Deles todos tenho recebido o amor, o carinho, o apoio e o estímulo para prosseguir em minha já longa jornada por esta vida. Do mesmo modo, quero fazer referência a meus genros e netos, sendo os primeiros meus amigos; os últimos, a alegria redobrada da paternidade.

O momento que o gesto magnânimo desta Casa, Sr. Presidente, me permite viver é daqueles que se guarda no escrínio das lembranças mais caras. Quando, no ocaso de minha existência, fizer o inevitável balanço das alegrias e sofrimentos, este mágico momento há de ficar insculpido em minh’alma como um dos mais luminosos e gratificantes.

Indaguei de mim mesmo, quando fui cientificado da homenagem, por que fui escolhido. Ao rever a lista dos agraciados, constatei que todos eles são pessoas de elevado mérito, que prestaram relevantes serviços, e a outorga para eles foi plenamente justificável. Minha vida nada tem de notável, Ver. Haroldo de Souza, e, assim, concluí que a Câmara resolveu, ao menos uma vez, homenagear o cidadão comum que sou. É isso o que hoje sou. Um cidadão comum, cujo único mérito foi sempre cumprir com o seu dever, como V. Ex.ª ressaltou com extrema bondade. Daqueles que se ergue do leito a cada manhã, logo ao alvorecer, e que, ao longo de cada dia, cumpre, inevitavelmente, diuturnamente, sua jornada de trabalho.

Diria, a propósito da epopéia Farroupilha, que hoje o heroísmo Farrapo é outro, o heroísmo Farrapo está em, a cada dia, enfrentarmos as vicissitudes, atravessarmos as dificuldades, sobrepujarmos os obstáculos que uma sociedade massiva e massacrante, às vezes, impõe a cada um de nós. O heroísmo hoje está na cultura dos valores perenes da nacionalidade, nos valores perenes do ser humano, que, esses sim, têm que ser para sempre acalentados. Essa é a bravura de cada cidadão e de cada cidadã deste País no dia de hoje.

Jovem, alimentei-me de sonhos. Sonhei ver minha Pátria soberana, dona de seu destino, impávida a reinar sobre as riquezas que a natureza nos deu. Sonhei ver o Brasil agasalhar todos os seres de boa vontade que, como os cidadãos comuns, só querem teto, pão, trabalho e terra. Acalentei o sonho de ver reinar a solidariedade e o humanismo, a propiciar a cada filho desta terra o direito a um lugar ao sol, a igualdade de oportunidade, para que cada um possa fazer vencer e impor o seu próprio mérito. Adulto, constatei que tudo era diferente, que essa é uma sociedade excludente, e que os donos do poder econômico só pensam em aumentar seus desmedidos lucros, contando-se nos dedos das mãos os que são altruístas e preocupados com os deserdados.

Engajei-me na luta política, fui Vereador, Líder partidário e culminei por aceitar um cargo na administração federal a pedido do então Presidente, Dr. João Goulart, justamente um cargo na nevrálgica área da Reforma Agrária. Assumi esse cargo aos 28 anos de idade. Quando ele foi deposto, passei a ser perseguido e com ele e com o ex-Governador Leonel Brizola refugiei-me no Uruguai. Quando retornei, já em meados de 1966, fui preso e respondi a processos por subversão. Resultei absolvido, após oito meses de cárcere. Minha vida pessoal e profissional foi afetada. O anseio de concorrer a cargo na Magistratura foi obstaculizado pela impossibilidade de apresentar atestado ideológico, então exigido, e considerei aí, então, encerrada a minha participação na luta política.

De volta à advocacia, lobriguei na Ordem dos Advogados do Brasil o estuário natural para a luta pelo retorno ao estado de direito. Por ele batalhei no limite das minhas forças e possibilidades. Quando as eleições diretas acabaram por ser estabelecidas, esperei o cumprimento das promessas dos que haviam jurado remover o chamado entulho autoritário. E o que se viu? Nem os governos autoritários usaram tanto o instrumento heróico dos Decretos Leis quanto os governos eleitos pelo povo, com suas incontáveis Medidas Provisórias. As leis oriundas dos governos ditatoriais foram mantidas e até reforçadas, e o patrimônio mineral do Brasil foi alienado sob o pretexto de que serviria para pagar a dívida externa. Esta cresceu desmesuradamente, junto com a dívida interna, e hoje andamos no fio da navalha de um estado falencial. Há quem elogie os governos militares. Não quero novamente viver sob eles. Mas é bom que se proclame que, ao menos, não venderam nossa Pátria, não alienaram nossa soberania e não comercializaram, em troco de moedas podres, nosso subsolo e nossas empresas públicas. Sempre se disse que era preciso fazer o bolo primeiro, deixá-lo crescer e depois dividi-lo entre os filhos deste grande País. Só que o bolo cresce e um número cada vez menor de pessoas apodera-se dele, e o povo só recolhe as pequenas migalhas, vendo os nababos engordarem às custas das misérias e das carências.

O século XX, Sr. Presidente, acabou e com ele acabaram-se as ideologias. Hoje a ideologia predominante é o lucro. Qual Baal redivivo, adora-se o lucro, não aquele normal, aquele que é justo como retribuição ao capital investido, mas o lucro desmedido, que perverte, corrompe e ofende.

O sonho acabou? A esta altura da minha vida, deveria achar que sim, mas ainda creio, Srs. Vereadores, ainda creio, Sr. Presidente, que a Justiça triunfará. Ainda acredito que o bom senso acabará por preponderar e que as pessoas, povos e nações perceberão que não há salvação sem solidariedade e que o humanismo é a única filosofia capaz de propiciar ao homem alguma felicidade nesta Terra.

Uma palavra, Sr. Presidente, se me permite, sobre o Poder a que servi até há pouco. Após 35 anos de advocacia, fui escolhido para ocupar uma cátedra no Tribunal de Justiça de nosso Estado. Hoje, distanciado pelo jubilamento, posso afirmar que essa foi a fase mais fértil, mais criadora e mais gratificante da minha existência. Os amigos que ali fiz, os exemplos de dedicação, de abnegação, de retidão e de talento que ali recolhi iluminam a minha existência e acalentam o meu coração a cada dia. Bendito o Estado que tem uma Justiça como a nossa. Aos colegas Magistrados presentes, portanto, minha sincera e permanente homenagem, e com eles partilho muito do que hoje estou recebendo.

Por uma determinação da Mesa, esta cerimônia engasta-se nos festejos da Semana Farroupilha. Nada mais feliz para mim do que esta coincidência. Sou daqueles que não cessa de lembrar, como há pouco lembrou o Ver. Elói Guimarães, que nós gaúchos somos brasileiros por opção e não por destinação. Aqui ficamos no extremo sul dessa grande Pátria, sentinelas indormidas da soberania nacional. Por isso, somos uma estirpe de bravos. Assim foi em 1893, em 1923, em 1930 e, depois, embora sem derramamento de sangue brasileiro, na legalidade em 1961, quando nossa rebeldia assegurou o cumprimento da Constituição.

Reviver essa epopéia, a epopéia farroupilha, é sempre reacender a chama do patriotismo, cultivar as mais caras tradições e dar perene testemunho do que fomos e do que somos.

Agora, pensando melhor, creio que há uma razão, sim, para o ato que acabei de viver. Minha vida sempre foi movida pelo amor. O amor aos meus filhos, pedaços vivos e íntegros do meu ser, aqueles que guardarão meu rosto do olvido quando eu não for mais do que pó; o amor por minhas irmãs e familiares; o amor pela minha Pátria, tão maltratada e tão viva, inobstante isso, que só de pisar o seu sagrado solo, quando estava exilado, dela recebia um influxo de sua força e de sua significação. Ficava imantado por essa força e por essa significação. O amor às mulheres que amei e à que amo - Vanessa aqui presente -, amor que aquece a minha alma e dá alento e força. O amor, por último, mas não menos importante, pelo torrão gaúcho e por esta Porto Alegre que tão generosamente me abriga e que agora me torna seu filho adotivo. Ter amado assim é, na verdade, o meu grande mérito.

É tempo de encerrar, não sem lembrar aquela que, certamente aqui estaria, cheia de orgulho e reafirmando o seu constante inspirador afeto. Refiro-me a minha mãe, Helena, que já não se encontra entre nós. A ela digo: não morre quem vive na lembrança dos que a amaram.

Cheguei a esta bela e hospitaleira Porto Alegre, nos idos de 1951, com 17 anos de idade. Era a Porto Alegre da Galeria Chaves, da Rua da Praia, dos bondes e do Largo do Medeiros. Por suas ruas andei encantado, sentido-me seguro como quem descobre um novo e maravilhoso mundo. Passei a amar esta Cidade, mas sem esquecer-me da minha Cachoeira. Para lá estou sempre voltando, às vezes fisicamente, outras pela magia do pensamento. Homem da terra, embora urbanizado, jamais esqueço das palavras de um outro homem como eu, cujo livro Biografia de um Cidadão Comum, meu amigo Dr. Paulo Pires que aqui não está, deu-me a conhecer. Diz esse escritor, Anoel Portella, desconhecido do mundo literário, em seu belo livreto, quando confronta a diferença entre a vida do campo e a agitação da grande cidade: “Na verdade, também gosto de ver a cidade acordar. Os primeiros ruídos, o sol no telhado das casas mais altas; os estudantes apressados rumo à escola, carregando suas esperanças. Posso até ver a revoada de sonhos por sobre suas cabeças. Tudo isso me encanta. A vida me encanta. Mas todas as belezas da cidade não se comparam a uma tarde de outono, com chuva fina, quando a gente dobra o saco de estopa, põe sobre a cabeça como um capuz, e sai para o mato a juntar pinhões. Aí ele olhou distante, como se pudesse vislumbrar o passado, e recitou: ‘Tempo! Volta para mim!/ Quero ser criança de novo. / Quero viver tudo outra vez.../ Quero brincar nos campos em tardes de primavera./ Quero sentir o cheiro da flor da maria-mole soprada pelo vento!/ Quero ouvir o mugido das vacas na hora da ordenha, / O balido dos cordeiros aquecendo-se ao sol, atrás dos galpões./ Quero subir nas árvores, descer coxilha abaixo dentro de uma gamela./ Quero ouvir aqueles pássaros que habitavam meu cinamomo, ali na frente de casa./ Tempo, volta para mim!’”.

Obrigado a todos os presentes por este momento raro e inestimável. Ele resguardará minha velhice e encantará o resto de minha existência. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Registramos, com muita honra, a presença do ilustre Ver. Isaac Ainhorn.

O Sr. Manoelito Carlos Savaris, Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho, está com a palavra.

 

O SR. MANOELITO CARLOS SAVARIS: Sr. Presidente, Sr.as Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Fazer homenagem à Semana Farroupilha é lembrar um período histórico importante deste Estado. É uma obrigação de todos os cidadãos, dos cidadãos sul-rio-grandenses em especial. Mas a Câmara Municipal de Porto Alegre vai além disso e propicia uma Sessão Solene para que se faça isso.

A Semana Farroupilha, posso-lhes garantir, não é e não foi criada para ser época de só festa, só bebida, só dança, só passeio a cavalo; isso faz parte da nossa cultura. Todas as vezes que nós festejamos alguma coisa, nós fazemos isso, mas Semana Farroupilha tem de ser momento de reflexão, tem de ser momento de verificar o que nós queremos para a frente.

A História, a tradição só tem uma função: é nos dar alicerce para projetar o amanhã, para projetar à frente. Em si mesma a História não tem nenhuma função: ela só vale quando ela dá argumentos, dá suporte para que aquelas pessoas que vivem o presente possam alcançar um futuro melhor, mais justo, mais honesto, mais cidadão, e quando nós falamos em Semana Farroupilha e nos lembramos dos feitos de Canabarro, de Antonio de Souza Netto, de Bento Gonçalves, de Anita Garibaldi, de Giuseppe Garibaldi, de Tito Lívio Zambecari, e assim vai, nós temos de nos perguntar: por que é que eles fizeram isso? Não foi uma patacoada? Não foi uma gauchada? Foi, na verdade, um grito de inconformidade com o estado de coisas. As razões, não vamos aqui discuti-las, elas foram de ordem econômica, de ordem militar, de ordem religiosa, de ordem ideológica, de ordem patrimonial, mas o fato é que era uma sociedade que não sabia ainda, naquele momento, se era castelhana ou se era brasileira. Este território foi de campos neutrais por muito tempo, a fronteira Espanha/Portugal se deslocou de um lado para outro por muito tempo; a Guerra da Cisplatina, que antecedeu a Revolução Farroupilha e nela tem uma parcela importante de motivação, terminou sem que ficasse definido muito claramente qual era a fronteira entre Brasil e Uruguai. Todos sabem que o Uruguai era uma província brasileira. Algumas pessoas pensam que o Uruguai se tornou independente da Argentina ou da Espanha. Não, se tornou independente do Brasil em 1827.

Quando Porto Alegre foi invadida na noite de 19 para 20 de setembro, aquele grupo de cidadãos liderados por Gomes Jardim, um sexagenário, portanto, um homem de alguma idade, mas jovem - uma juventude que tenho certeza de que o Desembargador Eliseu estava chamando de volta, mas, na verdade, já a tem dentro de si, do contrário, não a chamaria -, aqueles homens só estavam querendo dizer: “Nós não concordamos com o estado de coisas que aí está. Nós queremos uma república para o Brasil”. Foi quando, pela primeira vez, se falou em república neste território brasileiro.

Eu queria dizer duas coisas importantes sobre a Revolução Farroupilha. Primeira: concluída a Revolução Farroupilha, não se tem notícia na história da humanidade que isso tenha acontecido, não houve um processo sequer, não houve uma única perseguição política de parte a parte, não houve presos, depois de 10 anos de guerra. Como se explica isso? Isso só se explica pelo espírito de patriotismo, em especial, de dois homens: Duque de Caxias e David Canabarro. Bento Gonçalves já havia-se retirado da guerra depois do infeliz incidente de Alegrete, e Antonio de Souza Netto se auto-exilou no Uruguai; Antonio de Souza Netto foi o proclamador da República Rio-Grandense. Exilou-se no Uruguai, porque entendia que dez anos haviam sido muito longos para voltar a viver sob a égide da monarquia. Primeiro, esse fato extremamente importante. Segundo fato: o Rio Grande do Sul, concluída a Revolução Farroupilha de 45, alguns anos depois ofereceu mais de 50% do contingente do Exército Brasileiro na Guerra do Paraguai. E aquele Exército era dos Farroupilhas. Ou seja, tanto quanto lutaram para a defesa de ideais gaúchos, sul-rio-grandenses - inclusive querendo a independência, sim, em um determinado momento, pela impossibilidade de estabelecer uma relação melhor -, mas também depois derramou-se o sangue para defender a Pátria brasileira, como já havia feito, muitos anos antes, desde 1720. Antes mesmo de ser fundado, oficialmente, o Rio Grande do Sul, que foi fundado em 1737. Quem andava por aqui já peleava com os castelhanos para garantir este território. Então, por isso é que se diz que somos brasileiros por opção, este território poderia ser simplesmente castelhano, não precisa nem muito esforço para isso.

O Movimento Tradicionalista Gaúcho orgulha-se por fazer parte dessa história. E os tradicionalistas são pessoas da sociedade. Ser tradicionalista não é uma profissão, é uma opção altruísta, uma dedicação que pessoas de todas as camadas sociais, de todos setores sociais têm dentro do movimento organizado. Nós temos de quase miseráveis a quase milionários, no Movimento Tradicionalista Gaúcho; nós temos de analfabetos a pós-doutorandos; nós temos todas as representações étnicas dentro do Movimento. Ou seja, é um Movimento que só tem um objetivo: resgate, preservação da nossa cultura. A globalização econômica, não sei se boa ou ruim, parece-me que está posta. A globalização da informação, que me parece boa, também está posta. O que não aceitamos é a globalização cultural, esta não. Queremos cantar a nossa aldeia. Queremos e dizemos: a cultura americana é ótima para os americanos; a cultura polonesa é ótima para quem vive na Polônia; a cultura chinesa é ótima para quem vive na China. A cultura gaúcha tem que ser ótima para quem vive aqui nesta terra. Encerro, dizendo o que dizemos com muita freqüência: povo sem tradição morre a cada geração. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Carlos Nedel): Neste momento convidamos todos os presentes para ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a presença de todos e damos por encerrada a presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h36min.)

 

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